ATA DA OCTOGÉSIMA SEXTA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA
SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 27.08.1990.
Aos vinte e sete dias do mês de agosto do ano de mil
novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a
Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Octogésima Sexta Sessão Ordinária da
Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e
quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos
Vereadores Antonio Hohlfeldt, Clóvis Brum, Décio Schauren, Edi Morelli, Ervino
Besson, Flávio Koutzii, Gert Schinke, Giovani Gregol, Isaac Ainhorn, Jaques
Machado, João Dib, João Motta, José Valdir, Letícia Arruda, Luiz Braz, Luiz
Machado, Nelson Castan, Omar Ferri, Vieira da Cunha, Wilson Santos, Adroaldo
Correa, Martim Aranha e Bernadete Vidal. Constatada a existência de “quorum”, o
Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou ao Ver. Ervino Besson
que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A seguir, o Sr. Secretário procedeu
à leitura das Atas da Octogésima Quinta Sessão Ordinária e da Vigésima Primeira
Sessão Solene, que deixaram de ser votadas em face da inexistência de “quorum”.
À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, 01 Projeto de Resolução
nº 36/90 (Processo nº 1695/90); pelo Ver. Clóvis Brum, 01 Projeto de Lei do
Legislativo nº 115/90 (Processo nº 1721/90); pelo Ver. Wilson Santos, 02
Pedidos de Providências. Ainda, foi apregoado Projeto de Lei do Executivo nº
41/90 (Processo nº 1711/90). Do EXPEDIENTE constaram os Ofícios nºs 01/90, da
Comissão Especial constituída para examinar o Projeto de Lei Complementar do
Legislativo nº 16/90; 198/90, da Secretaria do Governo Municipal; 520 e 524/90,
do Sr. Prefeito Municipal; 03/584/90, da Câmara Municipal de Osasco; Circulares
nº 835/90, da Câmara Municipal de São João da Boa Vista; s/nº, da Fundação
Maurício Sirotsky Sobrinho; Carta do Presidente da UVEPAR. Após, o Sr.
Secretário procedeu à leitura do Requerimento do Ver. João Motta, aprovado dia
vinte e dois do corrente, que solicita a inversão da ordem dos trabalhos nas
segundas, quartas e sextas-feiras, ocorrendo a Pauta em primeiro lugar. Em
PAUTA ESPECIAL, ORÇAMENTOS, esteve, em 5ª Sessão, o Projeto de Lei do Executivo
nº 35/90, discutido pelos Vereadores João Dib e Antonio Hohlfeldt. Em PAUTA,
Discussão Preliminar, estiveram: em 1ª Sessão, o Projeto de Lei do Legislativo
nº 95/90, o Substitutivo nº 01 ao Projeto de Resolução nº 16/90; em 2ª Sessão,
o Substitutivo nº 01 ao Projeto de Lei do Legislativo nº 182/89, o Projeto de
Lei Complementar do Legislativo nº 19/90, o Projeto de Resolução nº 34/90, o
Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 12/90; em 3ª Sessão, os Projetos de
Lei do Legislativo nºs 88, 102 e 106/90, o Projeto de Lei do Executivo nº 36/90.
Após, o Sr. Presidente informou que, face a Requerimento, aprovado, do Ver.
Vieira da Cunha, o Grande Expediente da presente Sessão seria destinado a
assinalar o transcurso dos vinte e nove anos do “Movimento pela Legalidade”,
convidando os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e
personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Clóvis Brum, 2º
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos;
Dep. Luís Abadie, representando o Presidente da Assembléia Legislativa do
Estado; Dr. Wilson Vargas da Silveira, Diretor-Superintendente da METROPLAN:
Cel. Emílio João Pedro Neme; Srª. Francisca Brizola Rotta; Ver. Adroaldo
Correa, 3º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento
alusivo à solenidade e concedeu a palavra aos oradores que falariam em nome da
Casa. O Ver. Vieira da Cunha, como proponente da solenidade e em nome das
Bancadas do PDT, PMDB, PTB, PCB, PFL e PL, analisou o significado do “Movimento
pela Legalidade” para a história política do nosso País, fazendo um relato dos
principais acontecimentos que desencadearam tal mobilização popular. Destacou a
atuação de Leonel Brizola na liderança desse movimento. Propugnou pela união
das forças progressistas para o segundo turno das eleições a ocorrerem este
ano, visando a vitória contra os grupos direitistas ligados ao Governo Federal.
O Ver. Décio Schauren, em nome da Bancada do PT, salientando observar-se hoje a
presença, no País, das mesmas forças que buscaram a renúncia do ex-Presidente João
Goulart, discorreu sobre o papel das Forças Armadas na história brasileira,
marcado mais pela repressão do que pela defesa do nosso povo. Atentou para as
contradições existentes dentro das Forças Armadas em sua atuação de defesa e
repressão, propondo que tal instituição destine-se basicamente à defesa do
território nacional. O Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB, disse que
uma análise da história da América Latina leva à conclusão de serem as Forças
Armadas responsáveis pela instalação da maior parte das ditaduras
latino-americanas. Salientou que as Forças Armadas, em muitos momentos da nossa
história, cumpriram um papel de “meros representantes das forças estrangeiras e
multinacionais”. Comentou a participação da Brigada Militar no “Movimento pela
Legalidade” em nosso Estado. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a
palavra a Sra. Francisca Brizola Rotta, que declarou-se emocionada com a
presente solenidade, ratificando as palavras hoje proferidas pelos Senhores
Oradores. Às quinze horas e trinta e sete minutos o Sr. Presidente agradeceu a
presença de todos e suspendeu os trabalhos, nos termos do artigo 84, II do
Regimento Interno. Durante a Sessão, os trabalhos estiveram suspensos das
quatorze horas e quinze minutos às quatorze hortas e dezesseis minutos, nos
termos do artigo 84, I do Regimento Interno. Às quinze horas e trinta e nove
minutos, constatada a inexistência de “quorum” para a reabertura dos trabalhos,
o Sr. Presidente declarou encerrada a presente Sessão, convocando os Senhores
Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às dezoito horas. Os trabalhos
foram presididos pelos Vereadores Clóvis Brum e Adroaldo Correa e secretariados
pelo Ver. Adroaldo Correa. Do que eu, Adroaldo Correa, 3º Secretário,
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e
aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Clóvis Brum): Solicito ao
Secretário que proceda à leitura do Requerimento aprovado no dia 22 do
corrente, do Ver. João Motta.
O SR. SECRETÁRIO: (Procede à leitura.)
“Requeremos que a ordem dos
trabalhos sejam invertidos nas Sessões de segundas, quartas e sextas-feiras,
ocorrendo a Pauta em primeiro lugar, até o dia 03.10.90.
Porto Alegre, 20 de agosto de
1990.
(a) Ver. João Motta.
O SR. PRESIDENTE: Em razão desse Requerimento,
passaremos, de imediato, à
PAUTA ESPECIAL – ORÇAMENTO
5ª SESSÃO
PROC. Nº 1468/90 –
PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO Nº 035/90, que dispõe sobre as
Diretrizes Orçamentárias para 1991 e dá outras providências. Com Emendas nos 01 a 09.
O SR. PRESIDENTE: O primeiro inscrito em Pauta
Especial é o Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores,
em Pauta o PLE que determina as Leis de Diretrizes Orçamentárias do Município.
É um fato novo e que merece a atenção e o estudo de todas as Bancadas da Casa.
A Bancada do PDS analisou e vai apresentar Emendas em razão de tudo aquilo que
está disposto pelo Executivo no seu PL.
Assim, temos, em primeiro lugar,
uma Emenda Substitutiva da redação do art. 4º que passa, no nosso entendimento,
a ter uma melhor redação se nós dissermos que nos Projetos de Leis
Orçamentárias as receitas e despesas serão apresentadas em valores nominais de
31 de dezembro de 1990, com base nos preços vigentes em agosto, acrescidos das
estimativas inflacionárias dos últimos quatro meses de exercício, observado o
disposto no art. 6º e seu parágrafo único. Na forma em que o artigo está
redigido originalmente, ele é incompatível com outras prescrições da Lei de
Diretrizes Orçamentárias, em especial com os artigos 6º e 10.
Desta forma, estamos propondo uma
Emenda Substitutiva, assim como pretendemos que seja suprimido o art. 5º do
PLE, pois ele representa um cheque em branco para o Executivo, para que ele
possa efetuar suplementações sem que passem por esta Casa. E como estamos
legislando para sempre, para o amanhã e o depois também, creio que a Câmara não
pode ficar fora dos acontecimentos da Cidade, fiscalizando permanentemente.
Além de que o art. 5º cria uma nova moeda no Município, uma moeda denominada de
Unidade de Referência Orçamentária, e isto também conflita com outras situações
de outros artigos. O interessante seria um Projeto de Lei detalhando quanto ao
procedimento que seria o mais adequado para a criação do instrumento que se propõe
o Executivo Municipal. Estamos pedindo a supressão do art. 17, do PLE, a
expressão definida, previamente no plano de ação governamental. Passa o art. 17
a ter a seguinte redação, segundo nosso entendimento: “A distribuição de
recursos nas Leis Orçamentárias de 1991, deverá atender às seguintes
prioridades, observado o disposto no art. 18 desta Lei” - aí, vêm as
prioridades do Executivo. Também estamos pedindo a supressão do art. 19. Ele
“institucionaliza as prioridades e os objetivos da Administração para 1991,
constantes de um anexo”, e não cabe um anexo, na forma em que foi proposto,
numa Lei, e nós pedimos que ele seja retirado. Nós estamos pedindo também a
supressão do art. 29 e seu parágrafo único, que diz: “Qualquer Projeto de Lei
que conceda ou amplie isenção, incentivo ou benefício de natureza
tributário-financeira, não aprovado até a data da publicação desta Lei e que
gere efeito sobre a receita estimada para os Orçamentos de 1991, somente poderá
ser aprovado se indicar fundamentalmente a estimativa de receita que acarreta,
bem como dispensa em idêntico montante que serão anuladas automaticamente nos
Orçamentos do exercício referido”. Parágrafo único: “Não caberá anulação de
despesas correntes e das referentes à amortização da dívida no caso deste
artigo”. Então, nós estamos pedindo a supressão, porque “mantida a previsão do
art. 29, não tem, a Câmara, alternativa de aprovar novas propostas,
possivelmente incorporadas à previsão da receita orçamentária ou, simplesmente,
rejeitá-las, indicando, então, os locais, muito limitados pelo art. 29, em que
as dotações de despesa deverão ser reduzidas para restabelecer o equilíbrio de
Orçamento previsto no art. 10”.
Nós também estamos propondo uma
Emenda ao art. 24, onde fala da despesa com pessoal: “A despesa com pessoal e
encargos sociais, no exercício de 1991, não poderá exceder a 65% das receitas
correntes”. Nós estamos acrescentando: “...excluídas desse limite as despesas
cobertas por recurso da reserva de contingência”. Nós estamos pedindo a
supressão das alíneas “a”, “b” e “c”, do inciso I do art. 7º, que passa a ter a
seguinte redação: “Abertura de créditos suplementares para atender reajuste de
pessoal e encargos sociais”. O art. 7º diz o seguinte: “Nos projetos e leis
orçamentárias poderão constar as seguintes autorizações: I) abertura de
créditos suplementares, observados os seguintes requisitos: até o limite de 25%
a despesa total a autorizar para atender reajuste com pessoal e encargos
sociais, e por conta da reserva de contingência”. Então, nós estamos
modificando. Agora, se aprovarmos o art. 5º, ou melhor, a retirada do art. 5º,
essa Emenda vai ser retirada.
Estamos pedindo a supressão do
parágrafo único do art. 12, que diz: “Observado o limite das despesas fixadas
pelo art. 22 desta Lei, a proposta orçamentária da Administração Direta
destinará recursos: para a dívida pública, 6%; manutenção e conservação dos
serviços públicos, 12%; obras e equipamentos, 12%; reserva de contingência, 5%.
Parágrafo único: Os percentuais supra poderão sofrer variação para mais ou para
menos de, no máximo, 25%, relativamente a cada um deles”. Se colocássemos 25% a
mais em cada um deles, teríamos 8,75% a mais nas despesas do Município.
Portanto, como o Orçamento deve ser equilibrado, reduzindo na folha de
pagamento de pessoal que a Administração é clara, é até 65%.
Mas, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, tudo o que eu disse aqui, provavelmente, não tenha sido entendido,
porque num espaço de tempo curto não daria para absorver, principalmente não
tendo sido feito detalhadamente o pronunciamento, mas mostra a importância do
acompanhamento deste Projeto de Lei do Executivo, que se enquadra na nova Lei
Orgânica, se enquadra no novo momento que estamos vivendo em Porto Alegre.
Assim, todas as Bancadas têm que estar muito atentas sobre o que está
acontecendo agora. O Ver. Antonio Hohlfeldt já fez uma série de proposições
alterando alguma coisa. Confesso que minha Bancada não estudou, mas imagino que
outras Bancadas tenham feito. Agora, temos que ressaltar que é um dos projetos mais
importantes que estamos discutindo este ano. Por isso, alerto, como já fiz na
primeira Sessão de Pauta, para a importância do acompanhamento do que está para
acontecer, em razão da aprovação desse Projeto de Lei do Executivo com as
alterações que a Câmara, através dos seus ilustres Vereadores, entenda de
fazer. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Antonio
Hohlfeldt.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, o Ver. João Antonio Dib registra objetivamente a importância deste
Projeto que, pela primeira vez, a Câmara Municipal de Porto Alegre deverá
examinar e que resulta, em primeiro lugar, de alterações provocadas pela
Constituição de 1988 e na conseqüência das alterações provocadas pela Lei Orgânica
de Porto Alegre, de 04 de abril do corrente ano. Creio que de um modo geral o
Ver. Dib toca praticamente nos mesmos artigos que chamaram eventualmente a
atenção. No caso, e pediria a atenção do Ver. Dib também, porque acho que aí
vai resultar de um diálogo entre nós que temos acompanhado esse Projeto, acho
que há uma pequena divergência e uma coincidência no trabalho de Emendas que o
Ver. Dib realizou em relação ao meu. Evidentemente, sou um Vereador da situação
e busquei, obviamente, fazer aquelas correções que me pareceram, sobretudo,
ligadas às técnicas legislativas, às vezes até de clareza de redação. O Ver.
Dib, enquanto oposição, tem algumas divergências absolutamente lícitas, como já
as tive eu, quando fui de oposição e que busca garantir ao Legislativo o
acompanhamento e o controle daquilo que o Executivo fará. Numa coisa
coincidimos os dois, cada um por seu caminho, pretendemos melhor o mais
possível esta Lei e, nesse sentido, Ver. Dib, posso lhe garantir que o
Executivo tem muita humildade, muito objetiva posição de ouvir, como, aliás,
tem sempre feito nessas questões o Legislativo, e de compor um Projeto que
chegue a um consenso pelo menos de maioria.
Quero começar mencionando os
artigos 4º e 5º. Infelizmente, peguei V. Exª falando a respeito desse tema
específico e lhe confesso que ao o ouvir me dei conta de que na leitura que
havia feito, talvez até porque já havia conversado com o Secretário da Fazenda,
não me havia flagrado que, na verdade, Ver. Dib, não se está criando uma nova
unidade, o que se fez foi uma má redação com relação à URM, pura e
simplesmente. Na verdade, a referência ao art. 5º é a URM, só que ela foi
mencionada como Unidade de Referência Orçamentária do Município. Então, parece
que está criando um novo conceito. Deverá, portanto, haver uma correção no
sentido de manter fundamentalmente a Unidade de Referência Municipal. É a isso
que se refere objetivamente o art. 5º, embora mal redigido, gerando inclusive
isso que V. Exª muito bem apanhou e lhe confesso que, como tinha falado com o
Secretário, não prestei atenção no detalhe do “orçamentária”. Portanto, me
comprometo de fazer imediatamente uma emenda retirando esta “orçamentária” que
nada tem a ver.
Eu estou propondo, Ver. Dib, e
como eu não ouvi toda a parte a que V. Exª se referiu nisto aí – eu não sei se
vou chocar ou complementar a observação de V. Exª, eu estou propondo, em
primeiro lugar, a alteração do art. 5º pelo 4º, a ordem, pura e simplesmente,
sem entrar no mérito da questão. Por quê? Porque o art. 5º, no meu entendimento,
ele é mais genérico do que o art. 4º. O art. 5º estabelece que as dotações
serão feitas em URM. De uma certa maneira, com isto, eu praticamente elimino o
art. 4º ou, na pior das hipóteses – e aí entrou uma segunda Emenda minha neste
sentido -, eu pretendo que não se trabalhe com a variação do IPC, como menciona
o art. 4º, mas que, pura e simplesmente, se mencione também a URM. Por isto,
nós vamos unificar. Nós teremos uma única referência, que será a URN, dentro da
lei. Eu acho que com isto, independe do mérito – por isto que digo que eu não
estou entrando aqui no caso do mérito, me parece que V. Exª tocou, num certo
momento, mas apenas uma questão de organização da própria redação. A minha
proposta é que o art. 5º seja 4º e o 4º seja 5º e que a menção do art. 4º do
IPC haja variação da URM, porque a URM tem a ver com o IPC e não tem por que, é
uma questão de unidade de redação do Projeto, num artigo nós mencionarmos IPC e
no outro mencionarmos URM. Vamos redigir unitariamente, juntando a redação toda
com a URM, que é uma unidade, um referencial a que a Câmara já está se
acostumando, exatamente porque trabalhamos com ela. E no Projeto que aprovamos
ao final do ano passado, ficou explícito que todos os demais projetos, tanto
especificamente daquela vez da Reforma Tributária, como de outras questões
financeiras e econômicas do Município serão sempre expressas por esta Unidade
de Referência Municipal.
No art. 9º, nós estamos propondo,
e isto por necessidade, inclusive, da adequação à legislação federal. Portanto,
à Constituição Federal, no parágrafo único, onde se diz que “ficam revogadas as
vinculações de receitas e despesas de órgãos de fundos”, nós estamos
acrescentando “de receitas tributárias”, sob pena - como bem observou a
assessoria jurídica do Partido dos Trabalhadores - de anularmos todos os fundos
existentes no Município de Porto Alegre, inclusive, o Fundo de Desenvolvimento
Urbano. Então, necessariamente e adequando a legislação municipal à legislação
federal, o que fica proibida é a vinculação da receita tributária ao Fundo, não
as demais receitas. No caso, por exemplo, do Fundo de Desenvolvimento Urbano,
aquela receita advinda da venda dos índices de construção civil.
No art. 28, inciso XII, estamos
fazendo uma modificação que é apenas de redação. Estamos trocando a expressão
“prováveis modificações” da legislação federal, por “eventuais modificações”,
da legislação federal. Por que isto? Porque “prováveis modificações” faz-se
pressupor que tudo indica que haverá modificações, enquanto que o adjetivo
“eventuais” são aquelas que venham, eventualmente, ocorrer. O idioma português
é bastante rico nas suas sutilezas. E, obviamente, devemos usar estas sutilezas
para objetivar, para definir com precisão aquilo que é intenção do legislador.
A modificação, no meu entendimento, cabe, por uma questão de ênfase quanto às
modificações que são eventuais e não prováveis. Nada aponta para uma
necessidade de modificações.
Enquanto no art. 29 tenho uma
discordância com o Ver. João Dib. Acho que ele não pode ser suprimido, ele é
uma adequação da legislação municipal à legislação federal, A Constituição
Federal é muito clara de que o Legislativo Municipal pode emendar, desde que
indique a origem da verba que será usada em determinada despesa. É isto que faz
o art. 29. É um artigo que, do ponto de vista de técnica legislativa está mal
redigido, sobretudo na passagem: “somente poderá ser aprovado se indicar
fundamentalmente a estimativa da renúncia de receita”. Tivemos a modificação
para: “deverá indicar fundamentalmente a estimativa de receita”.
Então as nossas modificações são,
fundamentalmente, modificações que buscam clarear a legislação e adequar a
proposta do Executivo Municipal, que passará por esta Casa, a uma legislação
pré-existente, contra a qual não podemos nem devemos ir. No mais, me parece que
o Executivo Municipal cumpre dentro do prazo estipulado o envio do Projeto. E a
minha preocupação é apenas no sentido de que esta Casa está relativamente
atrasada na avaliação do Projeto. Espero que, vencidas as Pautas obrigatórias,
nós tenhamos um trabalho bastante rápido. E neste sentido, me parece que as
Emendas que estão sendo apresentadas antecipadamente mostram que haverá uma boa
discussão, um bom debate em torno desse assunto, com o que, obviamente, sai
ganhando a cidade de Porto Alegre. Não cabe aqui, não interessa aqui a vitória
específica. Não é um confronto entre o Executivo e Legislativo. Eu entendo que,
na verdade, da discussão nascerá, evidentemente, uma vantagem em relação à
cidade de Porto Alegre, à Administração.
Enfatizando isso acho que algumas
questões que o Ver. João Dib levanta são importantes, nós deveremos
discuti-las, deveremos chegar a algum consenso. Pessoalmente, eu tenho uma
discordância quanto à supressão do art. 29, que me parece que ele é pura e
simplesmente uma adequação à legislação federal, à Constituição Federal, e que
indica que o Legislador não pode aumentar despesa sem indicar de onde sai e
para onde vai. Então, parece que é isso que o artigo propõe, embora mal
redigido. E eu proponho uma modificação de redação, mas não supressão do
artigo, que eu acho necessário na adequação à legislação federal.
Mas, obviamente, a título de
observação, e é óbvio que no âmbito da Comissão ou das Comissões Conjuntas, se
isso vier a ocorrer, nós teremos oportunidade de fazer a discussão tranqüila.
Objetivamente, é uma questão de adequação de legislação. E neste sentido, eu
quero registrar a objetividade, o cuidado com que a Auditoria da Casa se
manifestou, inclusive levantando algumas questões que igualmente me haviam
chamado atenção, e apontando outros problemas que, no meu entendimento, deverão
ser igualmente discutidos aqui pelos Srs. Vereadores. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Passamos à
1ª SESSÃO
PROC. Nº 1479/90 –
PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 095/90, de autoria do
Ver. Vicente Dutra, que altera a Lei nº 4.791, de outubro de 1980, que denomina
Esplanada Vaticano um logradouro público.
PROC. Nº 0959/90 – SUBSTITUTIVO Nº 01, de autoria do Ver. Cyro Martini, ao PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 016/90,
de autoria do Ver. Leão de Medeiros, que institui o título honorífico de Honra
ao Mérito Policial.
2ª SESSÃO
PROC. Nº 3045/89 - SUBSTITUTIVO Nº 01, de autoria do Ver. Antonio Hohlfeldt, ao PROJETO DE LEI DO
LEGISLATIVO Nº 182/89, de autoria do Ver. Wilson Santos, que dispõe sobre a
obrigatoriedade das empresas permissionárias e/ou concessionárias de Porto
Alegre que operam no serviço de transporte coletivo de passageiros a realizarem
cursos de treinamento a seus motoristas.
PROC. Nº 1430/90 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO
LEGISLATIVO Nº 019/90, de autoria do Ver. Lauro
Hagemann, que cria o Conselho Municipal de Ciências e Tecnologia e dá outra
providências.
PROC. Nº 1613/90 - PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 034/90, de autoria da Verª Letícia Arruda, que concede o título honorífico de
Cidadão Emérito ao Professor João Francisco Ferreira.
PROC. Nº 1688/90 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO
EXECUTIVO Nº 012/90, que altera o artigo 165 da Lei Complementar nº
133, de 31 de dezembro de 1985, e dá outras providências. (Licença-Prêmio)
3ª SESSÃO
PROC. Nº 1383/90 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº
088/90, de autoria do Ver. Mano José, que altera a
denominação da atual Rua do Agenor para Rua Agenor Mendes Ouriques.
PROC. Nº 1561/90 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº
102/90, de autoria do Ver. Isaac Ainhorn, que institui a
fiscalização sanitária de gêneros alimentícios no Município de Porto Alegre.
PROC. Nº 1605/90 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº
106/90, de autoria do Ver. João Dib, que denomina Avenida
Karl Iwers um logradouro público.
PROC. Nº 1510/90 – PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO Nº
036/90, que dá nova redação ao artigo 2º da Lei nº 2.292,
de 28 de novembro de 1961, e alterações posteriores. (Serviços nos Cemitérios
Municipais)
O SR. PRESIDENTE: Não há orador inscrito para a
Pauta normal.
Passamos ao
O período de Grande Expediente da
Sessão de hoje está destinado a homenagear o 29º aniversário do Movimento pela
Legalidade e é uma solicitação do Ver. Vieira da Cunha.
Farão parte da Mesa o Deputado
Luís Abadie, representando o Presidente da Assembléia Legislativa do Estado;
Dr. Wilson Vargas da Silveira, Diretor-Superintendente da METROPLAN; Cel.
Emílio João Pedro Neme; Srª Francisca Brizola Rotta. (Lê.)
“O Rio Grande, orgulhosamente,
assinala, hoje, a passagem de marcante episódio que, por certo, ficará
eternizado em sua história: o Movimento pela Legalidade.
Naquele longínquo 25 de agosto de
1961, os gaúchos, independentemente de ideologia ou partido político, uniram-se
contra o arbítrio de algumas lideranças militares de então e levaram o
Vice-Presidente João Goulart ao cargo vago de Presidente da República.
Esta Casa, mais uma vez, não
poderia omitir-se diante de tão significativo acontecimento, neste momento
refletindo o pensamento de suas diversas Bancadas, evocando um movimento que
marcou, de modo indelével, nossas consciências políticas.”
Em nome da Casa, falarão os
Vereadores Vieira da Cunha, Décio Schauren e Omar Ferri. Concedemos a palavra
ao autor da proposição, Ver. Vieira da Cunha.
O SR. VIEIRA DA
CUNHA: Ver. Clóvis Brum, no exercício da Presidência,
lideranças partidárias da nossa juventude socialista, senhoras, senhores, ocupo
esta tribuna para assinalar, em nome do PDT, os vinte e nove anos do Movimento
pela Legalidade. Aquele movimento constitui-se, sem sombra de dúvidas, em uma
mobilização popular ímpar na história do nosso País. Da análise do Movimento
pela Legalidade conseguimos extrair muitos ensinamentos que contribuem, sobremaneira,
para a formação da consciência democrática da Nação Brasileira. Em 25 de agosto
de 1961, o Presidente Jânio Quadros, eleito com seis milhões de votos, renuncia
antes de completar sete meses no poder. O Brasil ainda estava perplexo, quando
outra notícia estourou: alguns chefes militares queriam aproveitar a
oportunidade e dar um golpe para impedir que o Vice-Presidente João Goulart
assumisse, sob a impatriótica alegação de “segurança nacional”.
Os Ministros Militares, em
manifesto à Nação, diziam da “absoluta inconveniência” do regresso ao País do
Vice-Presidente João Goulart, que se encontrava no exterior encabeçando uma
missão comercial do Brasil.
O golpe teria dado certo naquele
agosto de 1961, se não fosse a resistência do Rio Grande do Sul, comandada pelo
seu Governador, Eng. Leonel de Moura Brizola.
“O Rio Grande não aceita o golpe
e a ele não se submeterá”, bradou o Governador gaúcho, assumindo a liderança da
histórica resistência democrática.
Consciente de que seria
indispensável, para a resistência, ter à disposição um meio de comunicação de
massa, exatamente neste 27 de agosto, há vinte e cinco anos atrás, o Governador
Brizola requisitava a Rádio Guaíba.
Estava formada a “Rede Nacional
da Legalidade”, através da qual Brizola e seus companheiros de luta mobilizaram
a Nação e defenderam, entrincheirados nos porões do Palácio Piratini, a ordem
democrática.
A mobilização popular cresce.
Milhares de pessoas se apresentam no “Mata Borrão” da Av. Borges de Medeiros,
dispostos a lutar para garantir a posse de João Goulart na Presidência da
República.
Por outro lado, o General Machado
Lopes, Comandante do III Exército, havia recebido a ordem: pôr termo à “ação
subversiva” no Rio Grande do Sul a qualquer preço. Cresce a tensão no Estado. O
Palácio Piratini é ameaçado de bombardeio.
Em resposta à ordem de
bombardear, em 28 de agosto de 1961, o Comandante da Legalidade, Governador
Leonel Brizola, bradou ao Rio Grande e ao Brasil que resistiria até o fim, em
corajoso pronunciamento: “Povo de Porto Alegre, meus amigos do Rio Grande do
Sul! Não desejo sacrificar ninguém, mas venham para a frente deste Palácio,
numa demonstração de protesto contra esta loucura e este desatino. Venham e se
eles quiserem cometer esta chacina, retirem-se, mas eu não me retirarei e aqui
ficarei até o fim. Poderei ser esmagado. Poderei ser destruído. Poderei ser
morto. Eu, minha esposa e muitos amigos civis e militares do Rio Grande do Sul.
Não importa. Ficará o nosso protesto, lavando a honra desta Nação. Aqui,
resistiremos até o fim. A morte é melhor do que a vida sem honra, sem dignidade
e sem a glória. Aqui ficaremos até o fim. Podem atirar”.
Mas as tropas do Sul felizmente
preferem ficar com o povo, e o General Machado Lopes, neste mesmo dia, por
volta das doze horas, vai ao Palácio Piratini comunicar ao Governador Brizola
que as tropas sob seu comando “farão respeitar a Constituição”.
Em frente, na Praça da Matriz, a
multidão delira: o Rio Grande do Sul está definitivamente unido em torno da
causa da Legalidade Constitucional.
Acuados por uma mobilização
popular sem precedentes na nossa história, os Ministros Militares de então são
obrigados a capitular, e o Presidente João Goulart, a 1º de setembro de 1961,
chega triunfalmente a Porto Alegre.
Entretanto, as elites brasileiras
mostraram, mais uma vez, a sua competência: Jango tomava posse como Presidente
da República, no Palácio do Planalto, a 07 de setembro de 1961. Porém, o
Congresso Nacional instituíra, no Brasil, o Sistema Parlamentar de Governo.
Empanava-se o brilho da vitória
popular pela Legalidade.
E, mais uma vez, foi a voz do
Governador Leonel Brizola que se levantou contra o grande conchavo: “Considero
o regime Parlamentarista, dadas as circunstâncias em que foi adotado, uma
espécie de golpe, decidido em menos de vinte e quatro horas, a toque de caixa,
sem conhecimento do povo”, denunciava Brizola, ao exigir que o povo fosse
consultado, através de um plebiscito, “para se verificar se está de acordo ou
não com a solução que lhe foi imposta”.
O plebiscito, reclamado por
Brizola, só foi realizado em 06 de janeiro de 1963, quando a população
brasileira, por 9.457.448 votos a apenas 2.073.582, rejeita maciçamente o
Sistema Parlamentar de Governo que lhe fora imposto pelas elites dominantes.
A Legalidade Constitucional
estava finalmente restabelecida e abriram-se os caminhos para o infelizmente
curto, mas audaz, popular e nacionalista Governo de João Goulart, marcado por
uma política de defesa da economia nacional e da preocupação com o social,
retomando o projeto de Getúlio Vargas.
O golpe que já vinha sendo
articulado desde 1954, impedido com a morte de Getúlio Vargas e, depois, com o
Movimento pela Legalidade, finalmente consegue prosperar em 1964.
Esta Sessão e o movimento que
vivemos são próprios para que façamos uma análise da história para compreender
melhor a conjuntura nacional.
É evidente que as mesmas forças
que levaram Getúlio ao suicídio, que queriam impedir a posse de João Goulart e
que acabaram dando o golpe de 1964 são os mesmos que hoje se reagrupam em torno
do Governo Collor.
Faz-se necessária, pois, a
formação de um grande movimento para defender a democracia, a economia nacional
e os interesses populares. Nesse contexto é que o Governo Brizola, Comandante
da Legalidade, pregou e tem pregado insistentemente a necessidade de união das
forças progressistas para as eleições de 1990, a reedição do mesmo palanque de
luta no segundo turno das eleições presidenciais, como suporte necessário para
enfrentamento da política antinacional do Governo Collor, que possui a seu
serviço mecanismos sofisticados e poderosíssimos de comunicação de massa a seu
favor, como é do conhecimento de todos.
Infelizmente, em muitos Estados,
como é o caso do nosso, não foi possível viabilizar a unidade popular
antiCollor. Mas o povo brasileiro, especialmente o gaúcho, está atento à
história e a esses acontecimentos e saberá confiar novamente naqueles que
sempre estiveram a seu lado. Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Décio Schauren, pelo PT.
O SR. DÉCIO SCHAUREN: Ver. Clóvis Brum, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre, na presidência dos trabalhos, Srs. Vereadores, senhoras e senhores.
(Lê.)
“Hoje, vinte e nove anos depois,
os valores e as concepções em debate naquela época ainda estão na ordem do dia,
num processo que está longe de ser conclusivo no atual quadro político
brasileiro.
As mesmas ‘forças ocultas’ que
sustentaram os motivos da renúncia de Jânio Quadros quiseram impedir a posse de
João Goulart. Foram estas mesmas ‘forças’ que três anos mais tarde mergulharam
o País por mais de vinte anos nas trevas e no obscurantismo da ditadura
militar. E são estas mesmas forças, identificadas nas classes dominantes deste
País, que tentam por todos os meios, hoje, barrar a construção de uma alternativa
democrática e popular para o Brasil.
O episódio da Legalidade traz
para o debate, mais uma vez, o papel das Forças Armadas num país democrático e
civilizado. Desde os tempos do Império, nas Forças Armadas, em especial o
Exército, se caracterizam mais pela repressão interna do que pela defesa
externa do País. Na nossa história temos vários episódios que estão ligados por
um claro fio de continuidade. Lembremos da ‘Cabanagem’, movimento claramente
popular, ocorrido no Pará, em 1834, que foi reprimido pelo Exército, tendo como
saldo quarenta mil mortes. De imediato nos vem à lembrança os helicópteros
armados com seus vôos rasantes sobre a histórica assembléia dos metalúrgicos de
São Bernardo do Campo, no Estádio de Vila Euclides, em abril de 1980. E, assim,
a história está repleta de exemplos que marcam, infelizmente, a nossa memória:
Canudos em 1896, a Revolta da Chibata em 1910, Contestado em 1912, a ditadura
de Vargas com o Estado Novo em 1937, todos a confirmar o papel preponderante
das Forças Armadas na repressão ao povo, quase sempre desarmado e indefeso.
Quando os três Ministros
Militares do Governo Jânio Quadros alegaram a ‘justiça, a liberdade, a paz
social, (...) os mais altos padrões de nossa cultura cristã’, num exemplo de
cinismo e desprezo contra os valores democráticos, para impedir a posse do
Vice-Presidente eleito pelo voto popular, não estavam fazendo nada mais que
alimentar esta triste tradição.
Com o Golpe Militar de 1964, esta
tradição foi convertida em doutrina que procurava justificar e reforçar a
repressão interna: a chamada ‘Doutrina de Segurança Nacional’. Fruto desta
doutrina, em 1968, por exemplo, o currículo militar destinava duzentos e vinte
e duas horas-aula para a questão da segurança interna e apenas vinte e um horas
para o estudo da defesa territorial. Hoje, parece que pouco mudou.
Nestes últimos anos, a
militarização do Estado pouco se modificou. O Governo Sarney se caracterizou
pela tutela militar. O Governo Collor, apesar de eleito pelo voto direto e de
ter anunciado mudanças, tem mantido a tradicional tutela que se manifesta até
no âmbito do pitoresco: nem na época da ditadura um Presidente fez questão de
vestir-se com uniforme militar tantas vezes como Collor.
Há, entretanto, contradições no
seio das Forças Armadas. O apoio dado à Legalidade pelo Comando do III Exército
em 1961 foi um momento alto onde parcela do Exército colocou-se ao lado da luta
do povo, na defesa da democracia e do Estado de Direito. Nota-se, também, que
nas campanhas pela cidadania aos cabos, marinheiros e soldados e mesmo nas
disputas no Clube Militar, a consciência democrática faz crescer a pressão
social.
Ao relembrarmos a bravura da
resistência popular às investidas militares no episódio da Legalidade, quando o
povo soube repudiar o que poderia ter sido a antecipação do golpe de 1964, cabe
rediscutirmos um novo papel para os militares no nosso País.
Nós, do Partido dos
Trabalhadores, reafirmamos nossas propostas. Defendemos a extinção dos seis
Ministérios Militares e a criação de um único Ministério da Defesa, voltado
para a preservação da soberania territorial do País. Propomos o fim do Conselho
de Defesa Nacional, novo nome do antigo Conselho de Segurança, eliminando-se a
possibilidade de intervenção militar nos assuntos civis do Governo. Queremos o
desmantelamento dos órgãos de repressão política, de fato, e a apuração de
todos os crimes cometidos durante a ditadura, recuperando a memória e a luta
dos que tombaram pela democracia, vítimas da repressão.
Sabemos que não será de uma hora
para outra que se mudará a mentalidade militar, cimentada por décadas pela
Doutrina da Segurança Nacional, doutrina esta – não podemos esquecer – que foi
concebida pela estratégia de dominação imperialista do governo norte-americano.
Por isso defendemos o fim da obrigatoriedade do serviço militar e sua
substituição pela criação de uma serviço comunitário. Propomos uma nova
formação militar, separando a formação profissional, encargo das escolas
especificamente militares, da formação geral, atribuição da rede regular de
ensino.
Lembrar a Legalidade é lembrar,
também, a postura democrática e decidida da Brigada Militar e, ao mesmo tempo,
recordar que a ditadura de 1964 procurou subordinar as polícias estaduais ao
comando direto do Exército, situação que permanece na maioria dos Estados
brasileiros. Defendemos a subordinação das polícias estaduais aos seus
respectivos governos. Estamos convictos de que somente na direção apontada por
estas propostas, a sociedade civil poderá controlar as Forças Armadas,
invertendo uma relação de dominação que marca nosso País, traumatizado pelas
intervenções militares e ditaduras. Neste século de República, tivemos apenas
dezenove anos de Governo Federal não subordinado diretamente à força das armas.
Para concluir, gostaria de dizer
que não basta lembrarmos a Legalidade, muitas vezes, em tom apologético. As
forças contra as quais se levantou o povo gaúcho, tendo ao lado a Brigada
Militar e o Terceiro Exército, chegaram ao seu objetivo em 1964 e estão até
hoje a comandar os destinos do País A luta pela soberania nacional, pela
democracia, é mais atual do que nunca. Nós, do Partido dos Trabalhadores,
entendemos que à lembrança e à comemoração da Legalidade vão se juntando outros
episódios que fazem parte da mesma trajetória e que vão surgindo em nossa
mente: o massacre da Lapa, Chico Mendes, Vladimir Herzog, Siderúrgica Nacional
de Volta Redonda, Santo Dias da Silva, Padre Jósimo, as refinarias e portos
ocupados e assim por diante.
Temos certeza de que só a
mobilização popular democratiza o Estado e a sociedade. Só uma poderosa
consciência democrática pode fazer com que, num futuro próximo, marinheiros e
soldados caminhem definitivamente lado a lado com o povo trabalhador. Esta
imagem é, para mim, a melhor maneira de lembrarmos a luta pela Legalidade!
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador é o Ver. Omar Ferri, que
fala pela Bancada do PSB.
O SR. OMAR FERRI: Exmo Sr. Vice-Presidente da Casa, meus eminentes e prezados
amigos e irmãos de ideologia revolucionária, Wilson Vargas da Silveira e Cel.
Emílio Pedro Leme, DD. Srª Francisca Brizola Rotta, nossa prezada e querida
amiga. A rigor, não saberia como iniciar o discurso de hoje. O Ver. Décio
Schauren, relembrando a renúncia do Presidente Jânio Quadros, mencionou as
forças ocultas. As forças ocultas que, a meu ver, aquele Presidente não teve a
coragem de dizer quem eram, porque todo o Brasil soube e todo o Brasil sabe que
as forças ocultas não eram só os trustes, os cartéis, o capitalismo
internacional tantas vezes denunciadas pelo Comandante Leonel Brizola. Não eram
só isso, Coronel, não eram só isso, Dr. Wilson Vargas! As forças ocultas eram
muito mais do que isso e poderiam ser encontradas aqui dentro deste País – não
estavam lá fora – e estavam muito próximas de todos nós. Sou um antimilitarista
ferrenho, se dependesse de mim e eu pudesse criar uma sociedade ideal, até
arredaria dela padres, advogados, prostitutas e militares, pois para mim seriam
instituições perfeitamente dispensáveis. Forças ocultas, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, vamos começar pela indagação do que ocorreu na América Latina
nesses últimos anos. Se tomarmos as Constituições de todos os países da América
Latina, sem nenhuma exceção, elas dirão que todo o poder emana do povo e só em
seu nome este mesmo poder será exercido. Dizem, também, que o Presidente da
República é o Comandante em Chefe das Forças Armadas, que lhe devem obediência.
Se analisarmos, Sr. Presidente, o que ocorreu nesses últimos anos, na América
Latina, vamos chegar à conclusão de que exatamente as Forças Armadas que
prestam obediência aos Presidentes de Repúblicas são as primeiras a darem
golpes de Estado para entronizarem o sistema da ideologia da segurança
nacional, para imporem as ditaduras militares através dos golpes e sufocarem os
anseios e as aspirações libertárias dos povos latino-americanos. Não foi outra
coisa que aconteceu no Cone Sul da América Latina! Em 1964, derrubaram o
governo democrático de João Goulart, instauraram aqui uma ditadura militar
inspirada na ideologia da segurança nacional; em 1972, derrubaram o governo
nacionalista e popular de Juan José Torres, na Bolívia, instaurando lá uma
ditadura militar com inspiração no sistema ideológico da doutrina de segurança
nacional. Em 1973, derrubaram no Chile o Governo de Allende e instalaram
naquele País a ideologia da segurança nacional, matando mais de trinta mil
chilenos, em nome da democracia ocidental e cristã. Em 1973, Bordaderry se dá
um autogolpe, fecha o Congresso Nacional e entrega o Governo para os militares.
Em 1976, derrubam Isabelita Perón na Argentina; resultado: trinta mil
desaparecidos e dez mil mortos. Esse é o efeito desastroso da tal democracia
ocidental e cristã, que não tem nada de ocidental nem tem nada de cristã,
sempre inspirada pela força das armas, derrubando a democracia e derrubando os
governos constitucionalmente eleitos. Essas são as forças ocultas! Mas será que
esses militares faziam isso sponte sua, será que eles faziam por fazer,
será que eles obedeciam forças autóctones, forças crioulas, ideologia crioula,
vontade da Nação? Muito pior que isto, paralelamente aos golpes militares
desferidos para salvar os sistemas aristocráticos e o latifúndio, as Forças
Armadas, muitas vezes na nossa história, representaram apenas os interesses estrangeiros
e os interesses das multinacionais.
Abro aqui um livro e vejo uma entrevista sobre a
residência da Legalidade aqui em Porto Alegre. Uma entrevista feita ao Cel.
Pedro Emílio Neme, que nos honra com sua presença. Entrevista feita pelo
Jornalista Sérgio Quintana. O Cel. Emílio Pedro Neme, que estava participando
de uma recepção a uma missão comercial soviética, entrevistado disse que
“estranhou o comportamento dos Oficiais do Exército, com intuição, associou a
súbita retirada dos militares, durante a solenidade, à situação política do
País, mais precisamente às resistências que cresciam no seio das Forças Armadas
em relação à política externa do presidente Jânio Quadros”.
Este livro aqui não fala apenas, quando se citou a
Brigada Militar de gloriosas tradições, não fala apenas no Cel. Emílio Pedro
Neme, fala também na pessoa do Cel. Átilo Cavalheiro Escobar. Estas foram as
duas personagens importantes que no Rio Grande do Sul lideraram a Brigada
Militar e colocaram-na a serviço do Governo e do seu comandante, o Governador
do Estado à época, Eng. Leonel Brizola e colocaram a Brigada Militar a serviço
do povo de seu Estado.
Infelizmente, Cel. Neme, é preciso que se diga que
quando a Constituição transformou as Brigadas Militares em força auxiliar ou força
de reserva do Exército estava, sem dúvida nenhuma, militarizando a Brigada
Militar e transformando essa instituição não numa força de segurança do povo,
mas numa força militar de segurança do Estado. Os episódios de 1964 para cá
atestam e demonstram que, em todos eles, quando de suas intervenções políticas,
a Brigada Militar sempre participou do lado errado, sempre interveio do lado
contrário aos interesses populares. Por isso que a minha Brigada Militar, por
isso que a nossa Brigada Militar era aquela que tinha condutores populares e
nacionalistas e que aspiravam em primeiro lugar e acima de tudo libertar essa
Nação das forças que a oprimiam e escravizavam o seu povo. Na mensagem de
Getúlio Vargas só tem um erro, é quando ele diz ao final de sua carta: “que
este povo que foi escravo não mais será escravo de ninguém”. Infelizmente, após
uma análise brilhante da situação política e econômica desta Nação, Getúlio
Vargas errou. Este povo não por vontade de Getúlio Vargas, mas por traição das
Forças Armadas continuou a ser, e continua sendo um povo escravo. Por mais
pesadas que sejam estas palavras, é preciso em primeiro lugar viver numa
democracia e em segundo lugar ter coragem de dizê-las porque esta realmente é a
realidade que nos oprime. Dona Quita estivemos juntos muitas vezes, tomara,
Dona Quita, que no futuro voltemos a estar juntos. Lembro-me em 1964, eu estava
na Prefeitura Municipal ao lado do Prefeito Sereno Chaise no momento em que ele
pediu que se esvaziasse o movimento e que o povo se reiterasse. Fui para casa,
eu morava aqui e em Brasília naquela época, peguei uma mala, D. Quita, e desci
as escadas de uma velha casa no Centro da Cidade, onde morava, e quando já
estava no último degrau a minha sogra, que na época vivia, disse para mim:
“graças a Deus, tudo terminou tranqüilamente e em paz”. Eu me virei, parei uns
segundos e disse: “a senhora está redondamente enganada, este sacrifício que a
nossa geração devia enfrentar agora, nós transferimos aos nossos filhos e aos
nossos netos”.
Infelizmente, a situação brasileira vai de mal a
pior. Algum dia poderá dar uma explosão, mas o que me preocupa não é a
explosão, porque a revolução está em marcha, e só não vê quem não quer, mas é
uma revolução sem o verniz e sem o cerne da ideologia, é uma revolução mecânica.
Já não temos mais as nossas bandeiras, os nossos grandes líderes, se perderam
as idéias da grande revolução. As ideologias que empunhávamos nossas bandeiras
e que guiavam nossas idéias, o enfrentamento ao capitalismo, às forças obscuras
e medievais da opressão, nós esquecemos disso. Sou, Dona Quita, do PTB do tempo
do Brizola e não me afastei dessa linha, e pretendo permanecer nessa identidade
e nessa coerência, de uma posição cada vez mais revolucionária. Naquela época,
nós enfrentaríamos tudo se tivéssemos, de quem está acima de nós, uma ajuda
compatível com nossos ideais, ajuda que não quiseram dar ao Brizola. Brizola,
em 1964, era tão autêntico em 1964, como era em 1961, e nós o seguiríamos todos
para fazer a revolução que ainda não foi feita neste País.
Vou relembrar, D. Quita, algumas palavras dele,
porque se sou assim, hoje, tive um mestre que me conscientizou. E este mestre
foi o grande líder da Legalidade. Quando aqueles Generais vendilhões da Pátria,
vigaristas e traidores, vou dizer o nome de alguns deles, pretendiam bombardear
o Palácio Piratini, pretendiam sufocar a voz do Brizola. Todos sabem quem são:
o Gen. Muricy, o Gen. Bizarria Mamede, Gen. Odilio Denys, Gen. Grum Moss, Gen.
Castelo Branco, Gen. Médici, Gen. Silvio Heck, Gen Olímpio, Gen. Guedes. E eu
diria et caterva, porque para mim todos foram traidores deste País e
traidores do seu povo.
Vou dizer, Dona Quita, para encerrar, porque a
gente sempre segura aquelas mágoas antigas, não adianta dizer que não: nós
fomos destruídos, nós fomos espezinhados, nós fomos banidos, nós fomos
encarcerados, nós fomos foragidos, nos dividiram da nossa família, nós fomos
injustamente presos, nós fomos cassados, nós fomos violentamente expurgados,
99% sem nenhuma razão. Sem que o Poder que assim agia não tivesse a mínima
razão.
Que a revolução não se apague, que a chama da
revolução não se apague de dentro do nosso peito. Jamais! É essa a obrigação
dos políticos, pois quem não quiser ser revolucionário e portar consigo a chama
da revolução, que deixe de ser político. Quem é político tem obrigação de
orientar o povo, de ser líder.
E eu vou terminar relembrando as palavras do nosso
eminente Comandante na época da Legalidade em que mais perigavam a vida dos
nossos conterrâneos, e no momento em que mais ameaçado estava o Estado de ser
destruído pelas forças insanas do mal e dos maus, disse o Brizola: “poderei ser
destruído, poderei ser morto, eu, a minha esposa e muitos amigos civis e
militares do Rio Grande do Sul, não importa. Ficará o nosso protesto lavando a
honra desta Nação. Aqui resistiremos até o fim, a morte é melhor do que a vida
sem honra, sem dignidade e sem glória. Aqui ficaremos até o fim. Podem atirar,
que decolem os jatos, que atirem os armamentos que tiverem comprado à custa da
fome e do sacrifício do povo, joguem essas armas contra esse povo. Já fomos
dominados pelos trustes e monopólios norte-americanos. Estaremos aqui para
morrer, se necessário.” Que algum tipo, um grupo de homens também repita esta
mensagem tão importante. Estaremos aqui para morrer, se necessário, para salvar
a Nação Brasileira de tudo quilo que há de ruim e que oprime a Nação nos dias
de hoje. Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Agradecemos a presença do Sr. Deputado Luís Abadie, representando a
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, o Dr. Wilson Vargas da Silveira,
do Cel. Emílio Neme, da Srª Francisca Brizola Rotta e dos demais Vereadores.
Concedemos a palavra à Srª Francisca Brizola.
A SRA. FRANCISCA BRIZOLA ROTTA: Só quero dizer que
estou emocionada, principalmente com as palavras do meu amigo Omar Ferri. Quero
agradecer a esta platéia e a todos aqui presentes. Não tenho mais nada a dizer,
porque o Omar disse tudo que eu desejava que fosse dito. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Encerramos o Grande Expediente.
Visivelmente, não há “quorum”
para a Ordem do Dia. Assim sendo, damos por encerrados os trabalhos da presente
Sessão.
(Levanta-se a Sessão às 15h39min.)
* * * * *